Coletivo de artistas indígenas preserva a cultura kaxinawá e vende telas para comprar mata virgem
AMAZONIA LATITUDE
31/05/2023
Em uma faixa territorial que vai do leste peruano à fronteira com o Acre habita a etnia Kaxinawá. Sua história é marcada por violentos conflitos com seringueiros e madeireiros ao longo do século XX, quando a etnia se fragmentou e migrou para diversos pontos do Alto Juruás e Purus, assim como para o Vale do Javari – sendo que grande parte deles permaneceu em território brasileiro.
Os Kaxinawá se autodenominam Huni Kuin (“homens verdadeiros”), pois na língua Pano, idioma original da etnia, Kaxinawá pode significar “povo morcego”, “povo canibal” ou “povo que caminha à noite”, adjetivos considerados ofensivos pelos próprios Kaxinawás.
Ao longo do século XX, os Huni Kuin se viram envolvidos nos mais diversos conflitos advindos de seu contato com a sociedade ocidental – a exemplo disso podemos citar a morte de 80% da população por doenças trazidas durante a visita de antropólogos alemães em 1951.
Já no final do milênio, em 1992, os Huni Kuin abriram trilhas no perímetro onde moram para melhor explorar o látex. Essa iniciativa fez a produção prosperar, o que levou a um crescimento da etnia para 1.085 indivíduos (em comparação com as cerca de 500 pessoas encontrados pelos alemães na década de 1950).
No entanto, a aproximação dos Huni Kuin com a cultura ocidental fez com que muito de sua tradição fosse esquecida por seus membros – em casos como este, podemos interpretar “cultura ocidental” como política, economia, religião e tradição. Como mostra a história, essa bagagem cultural trazida pelo colonizador foi usada como motor do etnocídio ao longo dos séculos.
Frente a isso, o cacique da aldeia acreana de Chico Curumim, Ibã Sales, aprendeu toda a tradição Huni Kuin através de seu pai, e agora transmite o conhecimento ancestral para as gerações mais novas para preservar a cultura, hábitos e tradições de seu povo.
Ibã, além de cacique, é professor, educador, artista plástico e ativista. É mestre pela Universidade Federal do Acre (UFAC) e doutorando na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), onde leciona no curso de antropologia.
Em 2013, Ibã fundou o Movimento de Artistas Huni Kuin (MAHKU), coletivo de 12 artistas plásticos da etnia e instrumento para um plano ousado: usar o dinheiro da venda das obras de arte para comprar mata virgem e protegê–la do desmatamento.
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