Malária, tragédia amazônica

Foto: Freepik - @ jcomp

Imaginem as manchetes do Jornal Nacional, da Globo, e nos grandes jornalões do sudeste brasileiro – Folha, Estadão, Globo e Cia – se forem detectados 30 casos de malária em Ribeirão Preto, uma ilha da fantasia no interior paulista, com IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) comparável ao de países europeus?

Ronaldo Brasiliense
25/06/2023

Pois é, por isso estranho o silêncio ensurdecedor da mídia nacional diante dos mais de 30 mil casos de malária nos nove Estados da Amazônia Legal, apenas nos três primeiros meses de 2023.

Sim, foram mais de 31 mil casos autóctones, ou seja, aqueles contraídos localmente. Os dados, incontestáveis, são do próprio Ministério da Saúde.

Em 2022, segundo o mesmo Ministério da Saúde, o total de casos autóctones de malária registrados no Brasil foi de aproximadamente 129 mil. O número representa uma redução em nível nacional de 7,4% em relação aos casos registrados em 2021, mas não há o que festejar.

Foram mais de 30 mil casos de malária na Amazônia em três meses, com a imprensa nacional
caladinha.

CAMPANHA

O Ministério da Saúde (MS) lançou em março uma campanha voltada para a prevenção e combate à malária. Com o slogan “O combate à malária acontece com a participação de todos: cidadãos, comunidade e governo”, a campanha tem como foco a Região Amazônica, que concentra 99% dos casos no país. A doença, cuja incidência ocorre nas populações de maior vulnerabilidade social, representa um grande problema de saúde pública no país. A data marca o Dia Mundial de Luta Contra a Malária e os 20 anos de atuação do Programa Nacional de Prevenção e Controle da Malária.

Em 2019, o Brasil registrou mais de 153 mil casos de malária; em 2020 foram 143 mil; em 2021, 193 mil casos e em 2022, foram registrados 129 mil casos da doença e 50 óbitos.

Dados preliminares da pasta mostram que, nos dois primeiros meses de 2023, foram registrados 21.273 casos, um aumento de 12,2% em relação ao mesmo período do ano passado.

A malária é transmitida por meio da picada da fêmea do mosquito do gênero Anopheles infectada por uma ou mais espécies de protozoário do gênero Plasmodium.

A doença tem cura e o tratamento é eficaz, simples e gratuito, mas apesar de ser uma função milenar , da pobreza, até hoje não tem uma vacina comprovadamente eficaz. A malária pode evoluir para suas formas mais graves se não for diagnosticada e tratada de forma oportuna e adequada.

O Plasmodium falciparum é considerado o mais agressivo, por ser associado à forma grave da doença, cujos sintomas são: prostração, alteração da consciência, dispneia ou hiperventilação, convulsões, hipotensão arterial ou choque e hemorragias.

No Brasil, 30 municípios concentraram 80% dos casos da doença. Considerando apenas malária por Plasmodium falciparum, 16 municípios concentram 80% dos casos.

Na região extra-amazônica, composta pelas demais unidades da Federação Brasileira, as ações se concentram em evitar a transmissão autóctone (local).

A diretora do Departamento de Doenças Transmissíveis da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Alda Cruz, disse que a campanha vai ser veiculada nas regiões, consideradas especiais e mais afetadas, com foco em alertas, as formas de prevenção e tratamento da doença.

“O dever de casa é diagnosticar e tratar todos os casos de forma adequada e oportuna, com a realização das atividades de prevenção e controle, incluindo educação em saúde e evitar o restabelecimento nas áreas sem transmissão autóctone nos últimos três anos, que vem sendo implementado na região extra-amazônica”, destacou.
Alda informou que todos os medicamentos para o tratamento de malária estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS) e que o ministério distribuiu 171,9 mil testes, para atender estados da federação e Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs). Outros 300 mil testes serão entregues em duas etapas ao longo do ano de 2023. Ainda para este ano, o SUS está preparado para tratar mais de 800 mil pessoas com a doença, incluindo malária grave.
Os dados do MS, mostram que houve, entre 2021 e 2022, uma redução na transmissão de malária em áreas especiais, a exceção da área de garimpo, que apresentou um aumento de 11, 4% dos casos, passando de 20.554, em 2021, para 22.889 no ano seguinte.

Na área rural, o número de casos caiu de 50.896 para 47.621, uma redução no período de 6,4%; no assentamento houve diminuição de 7.727 para 6.961, queda de 9,9%; na área urbana o número de casos caiu de 11.976 para 10.483, redução de 12,5%; e na área indígena a queda foi de 15,7%, passando de 46.048 para 38.807.

Para a oficial nacional de malária e doenças neglicenciadas da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Sheila Rodovalho, é preciso ter atenção detalhada porque a forma de transmissão da doença varia em cada área. Ela destacou que a organização estuda fortalecer o apoio para a equipe nacional que trabalha na área, especialmente no Estado do Amapá.

“Estamos avaliando um apoio para fortalecer a equipe nacional, mas também em um estado específico que estamos trabalhando hoje, que é o Amapá. É um Estado que conseguimos identificar várias situações: temos área indígena, temos garimpo, ribeirinhos, temos áreas de fronteira onde tem uma ameaça de resistência a medicamentos”, disse.
A Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do MS, Ethel Maciel, disse que, além da campanha, a pasta deve lançar nos próximos dias, um plano estratégico de combate à malária específico para a Amazônia Legal. Entre as ações que devem ser realizada estão a capacitação de lideranças para a eliminação da doença.

“Trabalharemos nessas duas frentes: um plano específico visando o preenchimento de alguns vazios, tanto na vigilância quanto na assistência. Quando olhamos a distribuição, inclusive dos equipamentos de saúde no Brasil, eles são um tanto diferenciados por região e a Região Norte é aquela que precisamos olhar de forma diferenciada para efetivar a equidade em saúde”, concluiu.

Com informações da EBC

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