
A Folha de São Paulo e outros jornais do eixo Sul/Sudeste prestariam um grande serviço ao país se mostrassem a real situação do saneamento básico nos nove Estados que compõem a Amazônia Legal (Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Rondônia, Roraima, Tocantins e Pará) – quase dois terços do território nacional – e não concentrassem suas críticas apenas a Belém do Pará, sacrificada como “boi de piranha” por ter sido escolhida como a sede da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP 30, que se realiza em novembro próximo no Brasil, e justamente na Amazônia.
Os pífios índices de saneamento básico nos Estados amazônicos vêm sendo divulgados anualmente pelo acreditado Instituto Trata Brasil, e mostram uma realidade difícil de esconder: esgoto a céu aberto em todas as capitais na Amazônia – Belém, Manaus e Porto Velho brigam para ver quem está em pior situação – e o quadro caótico se repete em 100 por cento dos municípios localizados na região Norte.
Vivemos na maior bacia hidrográfica do mundo, às margens de rios caudalosos como Amazonas, Madeira, Negro, Xingu, Juruá ,Tapajós, Trombetas e outros e a realidade, dura e crua, comprova que na maioria dos municípios as populações ribeirinhas não têm acesso à água tratada.
A disparidade existente entre o saneamento básico, com o imprescindível esgotamento sanitário, entre as regiões Sul e Sudeste com o Norte e o Nordeste também evidencia o tratamento discriminatório que a União impõe secularmente aos “primos pobres” da Nação, nordestinos e amazônidas.
Os mais de R$ 5 bilhões que o governo federal está investindo em Belém através do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e de Itaipu-Binacional em obras para a COP 30, deveriam ser encarados no “Sul maravilha” – como falamos por aqui – apenas como uma pequena compensação por séculos de descaso e abandono – o que nos leva à definição dada pelo economista Edmar Bacha de que somos a Belindia – um país formado pelos espetaculares índices de desenvolvimento humano da Bélgica – São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, entre outros – e os índices de desenvolvimento catastróficos de partes da Índia, que seriam no Brasil a Amazônia e o Nordeste.
Almoxarifado do Brasil, que daqui leva os minérios, a madeira e até o nosso açaí, a Amazônia é uma região defendida por todos, mais preocupados com a preservação da maior floresta tropical úmida do planeta, com suas formigas, aves, guaribas, jacarés e sucuris e sua incomparável biodiversidade, esquecendo-se dos quase trinta milhões de brasileiros que aqui sobrevivem, milhões deles na miséria extrema, a imensa maioria sem água tratada e esgoto sanitário, milhares sem acesso à energia elétrica, sem escolas, sem hospitais…
Se alguém quiser fazer pela Amazônia, que faça agora. Não cometemos nenhum crime para sermos condenados à pobreza eterna.
É o que temos dito.
Faça o que eu digo, não faça o que eu faço
Os jornais paulistas que atacam Belém por falta de saneamento básico deveriam mostrar a situação do rio Tietê, um dos mais poluídos do Brasil que, apesar dos bilhões de reais gastos para tentar salva-lo, continua apresentando alta mortandade de peixes.
Já os jornais do Rio de Janeiro poderiam apresentar ao Brasil o desastre que representa o despejo de milhões de toneladas de esgoto na Baia de Guanabara, uma das mais poluídas do mundo.
Olhem um pouco para o próprio umbigo.
Fica a sugestão.
RATINHO
Qual a credibilidade do apresentar Ratinho para criticar Belém pelo simples fato de a capital paraense ter sido escolhida para sediar a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP 30, em novembro de 2025?
Ratinho ataca os índices pífios do saneamento básico em Belém, mas mantém um silêncio sepulcral sobre as descargas de esgoto que tornaram o Rio Tietê – que atravessa o território paulista – um dos mais poluídos do planeta.
E o que dizer dos índices dramáticos de saneamento do rio Pinheiros, verdadeira vala de esgoto a céu aberto na Paulicéia desvairada.
Pois é, quem é Ratinho na fila do esgoto nacional?
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