Ronaldo Brasiliense
A continuidade do enfrentamento entre as lideranças indígenas de todo o Pará contra o governador Helder Barbalho (MDB) e seu governo em torno da implantação de educação à distância nas aldeias, em ano da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP 30, em Belém do Pará, não interessa a ninguém.
Ou melhor, interessa aos inimigos da ideia de se realizar a COP pela primeira vez na Amazônia, como os governantes de Sao Paulo e Rio de Janeiro, entre outros Estados, que pleiteiam levar parte dos eventos da COP para seus domínios, com várias alegações.
Os argumentos dos indígenas contra o projeto de lei aprovado sem discussão pela dócil e submissa Assembléia Legislativa – onde Helder aprova o que bem quer – endossados pelos procuradores do Ministério Público que defendem o diálogo como instrumento para se chegar a um acordo, são irrefutáveis: em algumas terras indígenas no Pará não existe sequer internet e, em alguns casos, nem energia elétrica. É como ocorre com algumas seitas pentecostais, que querem vender lotes climatizados no Céu para seus crentes fiéis.
E, o que é pior: em algumas terras indígenas mais isoladas, os sobreviventes dos povos originários sequer falam português, o que transformaria as aulas à distância defendidas pelo governador, exibidas em telinha de televisão, em algo totalmente inútil. Por isso, os indígenas exigem educação presencial, com professores especializados – que levem em conta inclusive a língua-mãe, das etnias originárias.
A, digamos assim, tomada da sede da Secretaria de Estado de Educação em Belém – um ato extremo, mas sem violência – mostrou que hoje, 525 anos após a chegada do navegador português Pedro Álvares Cabral, o colonizador europeu, branco, os indígenas não se contentam mais em receber espelhinhos em troca das riquezas existentes em suas terras, demarcadas e homologadas, e vêem o governador anunciar no exterior contratos bilionários para a venda de créditos de carbono para grandes corporações sem que os indígenas tenham sido consultados sobre a “venda” de seus créditos por preservar a floresta em pé.
Como um ditador que chegou ao poder vendendo ilusões à turma do andar de baixo, Helder Barbalho impõe sua vontade imperial, vendendo créditos de carbono de outros e decidindo com uma só canetada que a educação dos povos originários dessa terra brasilis deve ser à distância, como se todos vivessem em uma Noruega, com padrão suíço de acesso à educação, saúde e saneamento básico.
Helder Barbalho adota uma política que envergonha a Nação – massacrando também os milhares de professores públicos do Estado, que já decidiram iniciar uma greve geral no próximo dia 23 – e justamente de um governante que será o anfitrião da Conferência do Clima, que deveria dar o bom exemplo, e não construir estradas que devastam os remanescentes de floresta tropical em Belém e região metropolitana – como no caso da já tristemente famosa Rodovia da Liberdade, ligando a Avenida Perimetral, em Belém, à Alça Viária, em Marituba, derrubando florestas no Parque Estadual do Utinga e no Quilombo Abacatal.
Cidadãos brasileiros, nossos indígenas foram à luta com as poucas armas que têm. Eles querem sobretudo cidadania plena, ter assegurados direitos consagrados na Constituição do Brasil a todo cidadão e cidadã, indígena ou não.
Fora disso, prevalecerão o caos, a desordem e a ditadura tupiniquim, sem qualquer escrúpulo de consciência, sem nenhuma noção.
É o que temos dito, sempre.
Melhor nem conferir.
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