Temporada de queimadas da região pode ser a maior da história
Preocupado com a imagem ambiental do Brasil no mundo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva orientou a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, a montar uma mega-estrutura para enfrentar, já a partir deste mês, o que os ambientalistas esperam ser a maior temporada de incêndios florestais na Amazônia dos últimos anos, desta vez influenciada pelo fenômeno El Nino – o aquecimento das águas no oceano Pacífico – que aumenta a temperatura e o período de seca na Amazônia brasileira.
Até as guaribas amazônicas sabem que os piores meses na região, propícios a queimadas, são agosto, setembro e outubro. O pior ainda está por vir. Boa parte da floresta que será queimada já foi derrubada nos últimos três meses e milhares de focos de incêndio virão das fazendas de gado, com os barões da pecuária tocando fogo para a renovação de pastos.
O sinal vermelho foi dado ao Ministério do Meio Ambiente pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), de São José dos Campos (SP), que em junho passado registrou 3.075 focos de incêndio na floresta amazônica e no cerrado, ficando atrás apenas dos focos de incêndio contabilizados em 2.007, no segundo governo de Lula, que foram 3.519.
Para um governo que promete ao mundo desmatamento zero até 2.030, o primeiro semestre de 2023 foi catastrófico para os biomas Amazônia e Cerrado, com 8.344 focos de incêndios, contra 7.533 contabilizados em 2022, último ano do governo Bolsonaro.
Diante do quadro trágico, a primeira providência adotada pelo presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Rodrigo Agostinho de Mendonça, foi a contratação de 2.100 brigadistas, que serão remanejados para os Estados da Amazônia Legal mais problemáticos no que de refere aos incêndios florestais: Mato Grosso, Pará, Amazonas, Rondônia e Acre. Não está descartada também a convocação de efetivos da Força Nacional de Segurança para dar suporte às operações do Ibama na região.
Alertas de desmatamento têm queda de 33,6%
A boa notícia para o governo na área ambiental veio com os alertas de desmatamento na Amazônia, que atingiram no primeiro semestre deste ano uma área de 2.649 km2, o que representa uma queda de 33,6% em relação ao mesmo período de 2022, informa o Ministério do Meio Ambiente, com base em dados do sistema Deter, que usa fotos de satélites monitoradas pelo INPE.
O secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco, festejou a queda, mas disse que ainda não é possível garantir que o resultado anual apresentará nova redução. Isso ocorre porque o balanço anual do Deter considera os alertas feitos entre agosto de um ano e julho de outro. Ou seja, será contabilizada uma parte do desmatamento feito durante o governo anterior.
Capobianco garantiu, no entanto, que a tendência de crescimento da derrubada de árvores na Amazônia foi revertida neste primeiro semestre de 2023. “O esforço de reverter a curva de crescimento do desmatamento foi bem-sucedido”, afirmou Capobianco.
Efeito El Niño no clima amazônico
Durante a permanência do fenômeno El Niño, que aquece as águas do Oceano Pacífico, a Amazônia se torna mais quente e mais seca do que ela já está por causa das mudanças climáticas. “O El Niño tem um efeito mais forte, porque está agindo em cima de uma floresta que já está modificada em termos de clima. Além disso, é um ano que a gente sabe que está com muito desmatamento, muita derrubada que não foi queimada, o que significa que vai ter muita fonte de ignição, muito fogo de desmatamento que pode escapar para dentro das florestas”, explica Erika Berenguer, pesquisadora das Universidades de Oxford e Lancaster (Reino Unido) que estuda degradação florestal, fogo e desmatamento.
Com o El Niño, a grande quantidade de matéria orgânica no chão da floresta tem como resultado uma Amazônia altamente inflamável.
“Como a Amazônia é muito úmida, em anos sem El Niño, quando o fogo entra no chão da floresta, na liteira, como é chamada essa camada de folhas e galhos caídos no chão, mesmo na estação seca, o fogo morre. Durante um El Niño isso não acontece, o fogo entra e se propaga e é muito difícil combater o fogo dentro da floresta amazônica”, conclui a pesquisadora.
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